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Mapa dos territórios da internet

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A internet é uma estrutura física, geolocalizada e atravessada por relações de poder. Cabos, satélites, antenas, servidores, computadores, celulares, minas, garimpo, códigos de programação, lixo eletrônico… existe muita materialidade e trabalho para que tudo funcione! Quem detém o poder de cada trecho dessa estrutura? De que territórios são extraídos os recursos minerais para esse desenvolvimento tecnológico? Para onde vai o lixo eletrônico? Que valores são embutidos nos algorítmos das redes sociais? Quem usufrui da conectividade, quem fica de fora? O quanto a digitalização facilita a vigilância? Quem tem o poder de vigiar? Que lucra? Como resistir ao colonialismo digital?

A Internet é um território em disputa e afeta os futuros das nossas democracias e os caminhos rumo à justiça climática e sócio-ambiental. Para conhecer melhor um território, um mapa sempre ajuda. Foi com essa finalidade que criamos o projeto cartografiasdainternet.org, desenvolvido pela Coding Rights, com colaboração da Rede Transfeminista de Cuidados Digitais e apoio da Fundação Henrich Boll Brasil. Concebido por Joana Varon e Clarote, com contribuições de pesquisa de Bruna Zanolli.

A ideia de desenvolver uma cartografia que ilustra as dimensões físicas e geopolíticas da estrutura da internet é materializar a nuvem. A utilização do termo “nuvem” remete a um imaginário de tecnologia que existe na ausência de um lugar ou território, algo imaterial, abstrato, atemporal, apolítico.

Mas ao materializarmos a nuvem, ficam visíveis as relações de poder que perpassam o funcionamento da rede, desde a camada da infra-estrutura física até a esfera das decisões algorítmicas. Ficam evidentes as relações extrativistas, as práticas de colonialismo digital e estabelecimento de monopólios. Passamos a levar em conta que situar de onde viemos, onde estamos e quem somos, em todas suas dimensões de gênero, sexualidade, raça, classe, etnia, cultura e nacionalidade, importa na nossa relação com essa tecnologia. A internet é um território em disputa. Para disputá-lo, é preciso conhecer suas dinâmicas.​

Esperamos que este mapa sirva como um instrumento em oficinas e rodas de conversa para instigar conversas sobre colonialismo digital e o papel das tecnologias no debate da justiça climática e sócio-ambiental. Mas lembre-se, desenhar cartografias é uma experiência viva. Os mapas se atualizam à medida que os territórios mudam e a visão de quem cartografa se transforma. Sendo assim, nem todos os territórios e aspectos da internet foram mapeados neste exercício, mas, gradualmente, iremos atualizar esta nossa cartografia com novas informações e perspectivas.

A primeira versão do mapa foi apresentada no FOSPA – Fórum Social PanAmazônico, realizada em Belém do Pará, em julho de 2022, em oficina em parceria com a Rede Transfeminista de Cuidados Digitais, desde então, se seguiram muitas rodas de conversa entre Rio de Janeiro, Berlin, Cidade do México e Vancourver. Mais versões, com diferentes layers de análise estão por vir. Vale seguir as redes da Coding Rights para saber das novidades ou opinar e sugerir mudanças! Uma versão em inglês sobre esta iniciativa também está disponível aqui.