Das telas aos corpos

#inteligência artificial #reconhecimento facial #vigilância

Uma websérie de curtas sobre como tecnologias usam nossos corpos como fonte de dados*

Além dos nossos aparelhos eletrônicos preferidos, nossos corpos também estão se tornando fontes de dados, do reconhecimento facial à coleta de informações de DNA. “Smart”, “mais seguro”, “mais saudável” são narrativas comuns por trás dessas tecnologias digitais e biotecnologias que estão levando as já preocupantes práticas de perfilamento a um outro nível. Pasmem, mas já temos empresas vendendo testes de DNA até para o que chamam de testes de infidelidade! O.0 E o contexto do COVID-19 também está acelerando essa tendência, já que reconhecimento facial está sendo apresentado como uma maneira de autenticação de identidade, seja para controlar nossos movimentos pelos territórios, seja porque reduz o toque em dispositivos.

Tudo isso está acontecendo em um contexto de aumento da vigilância, de governos de extrema direita, falta de regulação apropriada, além da utilização de algoritmos que reproduzem desigualdades de gênero, em todas as suas interseccionalidades de raça, gênero, sexualidade, classe, etnia, etc. Paralelamente, também crescem casos de práticas abusivas no compartilhamento e monetização de dados sensíveis, como são os dados biométricos.

Se já era crítico que o consentimento fosse dado às plataformas digitais por meio de um simples clique em um botão de “ACEITO”, quando os dados são coletados de nossos corpos ao transitarem pelos territórios, o que realmente significa consentir? Se estamos apenas caminhando por uma rua com câmaras de reconhecimento facial, estamos consentindo coleta de nossos dados biométricos? E quando governos obrigam imigrantes que cruzam fronteiras ou pessoas presas já no final do cumprimento da pena à coleta e guarda de seus dados de DNA? E pessoas que precisam autenticar sua identidade para receber serviços públicos, como as garantias do INSS? Quando estamos submetidas a relações desiguais de poder, como é o caso da nossa relação com o Estado, muitas vezes não temos a possibilidade de dizer não. E dados biométricos dizem muito mais sobre nós do que dados mais específicos de preenchimento de formulários, por exemplo.

Com essas e muitas outras questões em mente, a Coding Rights lança hoje From Devices to Bodies (Das Telas aos Corpos), uma websérie de curtas trazendo o resultado de conversas fascinantes com mulheres e pessoas não-binárias, pesquisadoras que visam ampliar os debates sobre a implementação de biotecnologias e tecnologias digitais que funcionam baseadas na coleta de dados sobre nossos corpos.

Os dois episódios completos, com legendas em português, você pode assistir no Youtube da Coding ou seguindos os links:

Episódio 1: Coleta de dados de DNA

Episódio 2: Reconhecimento Facial: gênero, raça e território

Mais informação sobre cada episódio, abaixo:

EPISÓDIO 1: COLETA DE DADOS DE DNA

O primeiro vídeo é sobre os desafios de direitos humanos enfrentados pela crescente coleta de informações de DNA por empresas e instituições de aplicação da lei nos Estados Unidos, Brasil e Europa, mas também traz análises de alguns estudos de caso de outras partes do mundo.

O vídeo tem como fonte a conversa que realizamos no painel “A tale on DNA data collection”, que organizamos na Rightscon 2020. Na ocasião, Joana Varon e Mariana Tamari, da equipe da Coding Rights, se juntaram a Jennifer Lynch, Diretora de Litígios sobre Vigilância da Electronic Frontier Foundation (EFF) e Helen Wallace, Diretora Executiva da GeneWatch, em um bate-papo virtual sobre a coleta de dados de DNA.

EPISÓDIO 2: RECONHECIMENTO FACIAL: GÊNERO, RAÇA E TERRITÓRIO

Já o segundo episódio da nossa websérie discute os perigos da implementação de tecnologias de reconhecimento facial, seja em câmaras de CCTV pelas ruas ou determinados espaços públicos, seja como forma de autenticação de documentos de identidade, em especial quando falamos de mulheres negras e da população trans.

Joana Varon, dessa vez, entrevistou a pesquisadora do MIT, Joy Buolamwini, que, entre muitas outras coisas, se define como “poetisa dos códigos” e é Fundadora da Algorithmic Justice League (Liga da Justiça Algorítmica). A conversa aconteceu no MIT, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts, quando ainda não existia a pandemia de COVID-19 e o distanciamento social não era um imperativo. A conversa com a Joy vira um bate bola com o contexto brasileiro por meio de entrevistas com a pesquisadora Mariah Rafaela, ativista e doutoranda debatendo temas de violência de gênero contra a população trans, que também é consultora da Coding em um novo estudo sobre reconhecimento facial e pessoas trans que estamos prestes a lançar. E também com a nossa querida twitteira e da cientista da computação Nina Da Hora.

======

Das Telas aos Corpos:

Episódio 1: Coleta de dados de DNA

Episódio 2: Reconhecimento Facial: gênero, raça e território

*Última atualização: 14 de janeiro de 2020.