Lançamento da plataforma TRAMAS – tecnologias, tramas, territórios

#América Latina #Colonialismo Digital #justiça sócio-ambiental

Você já parou para pensar nos impactos socioambientais das tecnologias digitais? Sobre quem lucra e quem resiste aos conflitos territoriais nas pontas dessas cadeias de produção? Qual o papel da América Latina nessa dinâmica global? E que ações podemos tomar desde nossos territórios?

Tramas – tecnologias, tramas, territórios te dá algumas pistas.

Tramas é um projeto de pesquisa-ação da Coalición Feminista Decolonial por la Justicia Digital y Ambiental, que contribui para desemaranhar os complexos entrelaçamentos entre expansão da infraestrutura digital, desenvolvimento de IA e conflitos socioambientais, visibilizando as linhas que tecem tramas de injustiças e resistências territoriais na América Latina.

Sobre a Coalición Feminista Decolonial por la Justicia Ambiental y Digital

A Coalición é uma intenção, um vínculo político, amoroso e de confiança entre amigas de longa data, que através do trabalho dentro da tecnologia, direitos humanos e feminismos convergiram na inquietação sobre perguntas ainda não respondidas no campo dos direitos digitais.

“O que está ocorrendo com esse paradigma da conectividade? Como se move nos termos da economia política, por exemplo, dos impactos nos territórios? Que vínculo isso tem com o colapso climático que estamos vivendo, com a desigualdade que se aprofundou com a pandemia?” Loreto (Maka) Bravo no 4º Conversatorio de Periodismo Descolonial.

Para responder estas perguntas foi necessário ir a campo, ouvir defensoras de territórios que estão pagando os custos físicos no corpo, na saúde, nos vínculos para que exista essa conectividade. Assim, documentamos as diferentes dimensões dos impactos ocultos da economia política das grandes empresas de tecnologia e o emaranhado das resistências de diversas partes da América Latina para visibilizar as lutas que comunidades e defensoras estão travando no México, no Brasil, Chile e em outros lugares na América Central, documentando tudo em estudos de casos com perspectiva feminista e decolonial.

Nossa Coalición é composta por diversas organizações e ativistas com base no Chile, Brasil e México. Atualmente fazem parte da coalizão: Coding Rights (Joana Varon e Mariana Tamari), Instituto Latinoamericano de Terraformação (Paz Peña), Sursiendo (Jes Ciacci), Paola Ricaurte (Rede Tierra Común e Rede Feminista de Pesquisa em Inteligência Artificial) e Loreto Bravo.


Documentamos os desafios e também as RESISTÊNCIAS!


Sobre os Casos

Ouvimos defensoras de territórios em Querétaro, Jalisco (México), Penco (Chile) e no Matopiba (Brasil) para falar de centros de dados, terras raras, resíduos tóxicos das indústrias de tecnologia, e de imaginários de futuro do agronegócio e tecnologias de expulsão que alimentam a expansão da monocultura, ameaçando florestas, a agricultura familiar e outros modos de produção agrícola.

A querida Loreto (Maka) Bravo, guiou todo o processo de pesquisa e concepção das tramas, para que visibilizássemos como todas essas lutas estão entrelaçadas! A mesma lógica colonial que explora os minerais no Chile, envenena rios no México e se apropria de terras no Brasil, é a que alimenta empresas milionárias!

A partir de perspectivas feminista e decolonial pretendemos conectar movimentos sociais e defensoras de territórios com ativistas por tecnologias mais justas.

Big Tech, Big Agro, Big Money: tecnologias de expulsão e impactos da digitalização da monocultura brasileira

Mariana Tamari, Joana Varon
Territórios: Cerrado do Matopiba e Agrishow em Ribeirão Preto, Brasil

Que imaginários de futuro e tecnologias promovem as grandes empresas do agronegócio? Como esta visão acelera a monocultura, ameaça a diversidade de cultivos e nossa segurança alimentar? Este estudo transita entre dois territórios: a Agrishow em Ribeirão Preto, onde mapeamos imaginários tecnológicos do Big Agro; e o caso da Gleba Tauá (TO), no Cerrado do Matopiba, “a nova fronteira agrícola”, onde a digitalização apresenta novos desafios para conflitos agrários centenários. Analisamos como drones, IA e big data mascararam desmatamento, concentração de terras e violência contra comunidades, promovendo a grilagem digital e a expulsão de comunidades, contrapondo saberes ancestrais e justiça socioambiental à narrativa excludente do “Agro high-tech”.

Joana Varon fez a pesquisa de campo no Agrishow, feira de tecnologia para o agronegócio que acontece anualmente em Ribeirão Preto/SP, contando com uma experiência imersiva da imensa capacidade tecnológica e narrativa de um dos principais setores da economia brasileira. Junto com Mariana Tamari, entrevistaram Karina Kato, Larissa Packer, Vinicius Gomes de Aguiar e contaram com a colaboração de pesquisa de Antonia Laudeci Oliveira Moraes para analisar os impactos dessa digitalização, projetada para o monocultivo, sobre outras formas de cultivo, como a agricultura familiar.

Geopolítica do fim do mundo: terras raras em Penco, Chile

Paz Peña, Cecilia Ananías
Territórios: Penco, Chile

Há anos, os habitantes de Penco, uma pequena cidade ao sul do Chile, resistem à instalação de um projeto mineiro para extrair terras raras em seu território. O mais recente empurrão para a aprovação do projeto é a guerra comercial do Ocidente contra a China, que busca desesperadamente novos depósitos de terras raras tanto para desafiar o domínio na produção mineral do país asiático, como para a obtenção de matéria-prima para a indústria tecnológica, automotiva e militar. A resistência comunitária em Penco e as pressões políticas e econômicas para aprovar o projeto mostram as contraditórias lógicas coloniais do capitalismo do século XXI, que aposta em uma pretensa sustentabilidade por meio da digitalização e da energia verde.

Não é seca, é saque: Querétaro, “o vale dos centros de dados”

Paola Ricaurte Quijano, Teresa Roldán Soria
Territórios: Querétaro, México

Querétaro, um pequeno estado do centro do México, consolidou-se como o principal polo da indústria de centros de dados no país. O auge deste setor corresponde à consolidação de políticas neoliberais que favoreceram sua expansão: privatização de empresas estatais, desregulamentação financeira e tratados de livre comércio que consolidaram a inserção subordinada do país na economia digital. Os impactos sobre as pessoas e o território são profundos, mas costumam ser minimizados na narrativa industrializadora do governo, marcada pela opacidade institucional. Grupos ambientalistas, defensoras de direitos humanos, comunidades e em particular povos indígenas e coletivos em defesa da água e do território, enfrentam hoje uma ameaça de espoliação de bens comuns vinculada a tecnologias emergentes.

Vale do Silício Mexicano: impactos socioambientais do colonialismo digital e as resistências pela vida digna

Jes Ciacci, Sofía Enciso
Territórios: El Salto, Jalisco, México

El Salto, município de Jalisco, na área metropolitana de Guadalajara, deve seu nome a uma cascata de água de 18 metros do rio Santiago. Desde o século XIX, a região vive um processo de industrialização devastador: primeiro uma hidrelétrica, depois fábricas têxteis e atualmente 675 empresas o posicionam como “Vale do Silício mexicano”. Após décadas de exploração que geraram graves danos ambientais e violação de direitos humanos, o Plano México 2025 ameaça intensificar esta crise histórica por meio de maior investimento estrangeiro. O coletivo Un Salto de Vida, nascido há 20 anos, resiste articulando estratégias de defesa territorial, luta política e restauração ambiental, construindo esperanças politizadas que desafiam um modelo extrativo centenário.

TRAMAS te propõe uma nova forma de olhar a economia digital.

Visite em https://tramas.digital
Disponível em português e espanhol (em breve em inglês).

Assista ao lançamento da plataforma no Centro Cultural Digital da Cidade do México

Para a plataforma, as ilustrações são de Giovanna Joo, webdesign pela Cooperativa de Diseño, webdevelopment por Diana K. Cury, coordenação e concepção visual Joana Varon.

Tradução e revisão espanhol-português por Ana Cristina Carvalhaes.

O projeto foi  financiado pelo Green Screen Catalyst Fund da Green Screen Coalition, com apoio adicional da Fundação Heinrich Böll Brasil para o caso brasileiro.

Laila