Coding lança livro no encerramento do 4º ciclo de projetos do capítulo Latino-americano da Feminist AI Research Network f<A+i>r
#futuros especulativos #inteligência artificialEm “The compost engineers and sus saberes lentos: a manifest for regenerative technologies”, Joana Varon e Lucia Egaña propõem sistemas regenerativos das compost engineers, um protótipo de tecnologia feminista.
Lançado no dia 06 de agosto de 2024 durante o encerramento do 4º ciclo de projetos do capítulo Latino-americano da Feminist AI Research Network f<A+i>r, o livro “The compost engineers and sus saberes lentos: a manifest for regenerative technologies” questiona se podemos mudar os imaginários tecnológicos para sistemas regenerativos em vez de tecnologias extrativistas voltadas para guerra, ansiedade e dominação.
Estudando narrativas de ficção científica colonial e da história do desenvolvimento tecnológico, as autoras partem do pressuposto de que “IA” é uma terminologia carregada, gerando imaginários muito limitados de futuros possíveis: futuros rápidos e metálicos, coloniais e patriarcais do Vale do Silício e de Hollywood. Quais valiosos conceitos feministas são deixados para trás quando usamos o termo “IA”? Partindo da ideia de exterior constitutivo da IA, as autoras desenvolveram o diagrama abaixo para explicitar que conceitos são esses:

Após uma breve imersão em estudos de Biologia e Ecologia, as pesquisadoras propõem imaginar um protótipo de tecnologia feminista decolonial que tem como objetivo regenerar, reconhecer e reconectar os humanos com os sistemas de tomada de decisão orgânicos que operam na natureza: os sistemas regenerativos das compost engineers. A partir da imaginação radical e de narrativas especulativas, e de tudo o que fica de fora quando usamos o termo IA, queremos propor conceitos capazes de inspirar o desenvolvimento de tecnologias situadas, não universalizantes, não centradas no humano e conectadas a outros ritmos, mais lentos que o ritmo do capitalismo. Propomos que a engenhosidade focada na regeneração possa ser priorizada como tecnologia inteligente. Propomos uma reconexão com tecnologias de vida, tecnologias do bem viver.
As epistemologias e práticas alternativas para o desenvolvimento tecnológico propostas por Joana e Lucía que reconhecem nosso contexto atual de emergência climática e realinham-se com conhecimentos ancestrais, que foram depreciados pelas violências coloniais que atravessaram o tempo e ainda estão presentes no desenvolvimento das tecnologias digitais.
Parte dessa jornada também foi inspirada por três entrevistas conduzidas de junho a agosto de 2023 com a biotecnologista chilena Daniela Torres, diretora do escritório do Chile da Fungi Foundation; Cinthia Mendonça, diretora do Silo, uma estação rural no Brasil que se dedica a buscar questionamentos e respostas para as questões desafiadoras de nosso tempo, oferecendo experiências para troca de conhecimentos e desenvolvimento humano, trabalhando com arte, ciência, tecnologia e agroecologia; e Denise Alves-Rodrigues, tecnóloga queer, criadora, artista e educadora, inspirada em reposicionar outras tecnologias no mesmo status que as tecnologias digitais.
A partir dos territórios que habitamos, é impossível não vincular tecnologias com seus efeitos globalmente distribuídos e geopoliticamente interconectados. Nesse sentido, é preciso considerar como a tecnologia feminista pode servir à restauração, reparação e preservação dos territórios e seus conhecimentos.
O estudo em inglês está disponível aqui.
Sobre as autoras
Joana Varon é brasileira, com ascendência colombiana, fundadora-diretora e catalisadora do caos criativo na Coding Rights, uma organização feminista que contribui para os debates sobre o desenvolvimento, implementação e regulamentação de tecnologias a partir de uma perspectiva coletiva, transfeminista, decolonial e antirracista dos direitos humanos, que por meio da criatividade e do conhecimento hacker busca estimular imaginários e ações que desafiem as desigualdades de poder. Ex-aluna do Berkman Klein Center for Internet and Society da Universidade de Harvard. Ex-Technology and Human Rights Fellow no Carr Center for Human Rights Policy da Harvard Kennedy School e ex-aluna da Mozilla como ex-media fellow. Feminista e defensora dos direitos humanos, tem mais de 15 anos de experiência em influenciar debates em arenas internacionais de governança tecnológica, de fóruns diplomáticos a técnicos, como a Internet Engineering Task Force (IETF), onde fez parte do grupo de pesquisadores que deu início ao grupo de trabalho sobre Considerações de Direitos Humanos para Padrões e Protocolos. Ela também é cocriadora de vários projetos que operam na interação entre ativismo, artes e tecnologias, como transfeministech.org, cartografiasdainternet.org, museamami.org, Chupadados.com, #safersisters, Safer Nudes, protests.org, Net of Rights e freenetfilm.org.
Lucía Egaña Rojas estudou Arte, Estética e Documentário Criativo e possui um doutorado em Comunicação Audiovisual. Como artista, ela trabalha em projetos que problematizam a construção de imaginários sociais e as fontes de conhecimento hegemônico. Seus projetos são formalizados por meio de produção artística, escrita, pesquisa, pedagogia e práticas auto-institucionais. Seu trabalho artístico não pode ser circunscrito a um meio específico e pode ser consultado em http://luciaegana.net. No campo educacional, ela transita entre espaços acadêmicos e pedagogias informais. Ela foi professora e fez parte da direção acadêmica do Programa de Estudos Independentes (PEI) do Museu de Arte Contemporânea de Barcelona (MACBA), professora associada na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Barcelona, palestrante convidada no Mestrado de Gênero da Universidade do Chile e no mestrado MUECA (UMH). Dentro do ativismo transfeminista, foi organizadora do festival de pós-pornografia Muestra Marrana e, em 2011, realizou o documentário “Mi sexualidad es una creación artística”, além de co-dirigir atualmente o Instituto de Estudios del Porno. Sua escrita explora diferentes formatos, desde ficção a ensaio, passando por prosa poética, manifesto e texto acadêmico. Ela publicou “Enciclopedia del amor en los tiempos del porno” (Cuarto propio, 2014; Trío editorial, 2020), “Atrincheradas en la carne. Lecturas en torno a las prácticas postpornográficas” (Bellaterra, 2018), “Acá soy la que se fue” (tictac ediciones, 2019), “Una cartografía extraña” (Metales Pesados, 2021), entre outros. Seu trabalho artístico é muitas vezes expresso coletivamente, onde participa no Musea M.A.M.I, no Centro de Estudios de la Naturaleza Extractiva (CENEx) e na Pluriversidad Nómada, um projeto promovido junto com Quimera Rosa. Seus principais interesses envolvem feminismos, metodologias, tecnologia, relações de poder norte-sul, processos coloniais e migratórios, extrativismo e erro.