La cobertura periodística sobre el costo ambiental de la tecnología digital.
#América Latina #meio ambiente #mudanças climáticasNo dia 26 de setembro de 2025, participamos como integrantes da Coalición Feminista Decolonial por la Justicia Ambiental y Digital do 4º Conversatorio de Periodismo Descolonial para falar sobre o custo ambiental das tecnologias digitais, principalmente para os países de Abya Yala.
Este blog post está escrito a partir da fala das participantes, trazendo um relato com tradução livre de alguns trechos do espanhol para o português, priorizando a compreensão do conteúdo em detrimento da literalidade.
O debate aconteceu com quatro integrantes da Coalición Feminista Decolonial por la Justicia Ambiental y Digital, sendo elas:
Joana Varon é fundadora e Co-diretora executiva da Coding Rights. Fellow de Direitos Humanos e Tecnologia do Carr Center for Human Rights Policy da Harvard Kennedy School. Co-criadora de projetos que articulam ativismo, arte e tecnologia.
Loreto (Maka) Bravo é comunicadora feminista, antropóloga e hacker. Coordena a estratégia de proteção e cuidados digitais da Iniciativa Mesoamericana de Mulheres Defensoras dos Direitos Humanos.
Paola Ricaurte é pesquisadora titular do Departamento de Mídia e Cultura Digital do Tecnológico de Monterrey e pesquisadora associada do Berkman Klein Center for Internet & Society da Universidade de Harvard. É cofundadora da rede Tierra Común e coordena a Rede Feminista de Pesquisa em Inteligência Artificial.
Sobre a Coalición Feminista Decolonial por la Justicia Ambiental y Digital
Loreto (Maka) Bravo
É uma intenção, um vínculo político, amoroso, de confiança entre um grupo de amigas que temos encontrado nossos caminhos a partir do trabalho de temas de tecnologia, direitos humanos e feminismos.
Caminhando, cada uma nos seus caminhos, nos encontramos e fomos nos dando conta que havia coisas no mundo digital, havia perguntas que não necessariamente estavam sendo respondidas e que nos interessavam muito. Que tinha a ver com entender que os direitos digitais não se reduzem somente a este conjunto de direitos pela qual se advogam, como pelo paradigma da conectividade, que todo mundo tem que estar conectado, que passa pelos povos hoje em dia não querendo estar conectados, e passam pelos lugares onde estão pagando os custos físicos no corpo, na saúde, nos vínculos para que exista essa conectividade.
Nos perguntamos “O que está ocorrendo com esse paradigma da conectividade? Como se move nos termos da economia político, por exemplo dos impactos nos territórios. Que vínculo isso tem com o colapso climático que estamos vivendo, com a desigualdade que se aprofundou com a pandemia?”
A partir destas perguntas nos propusemos a fazer estudos de casos para entender como estavam vivendo os impactos desta conectividade, mas através da instalação, da relocalização da infraestrutura que permite a conexão de todas as pessoas.
“Somos amigas, nos conhecemos há muitos anos, e nós gostamos muito de aprender juntas e sobretudo acompanhar processos. E me atrevo a dizer que nós gostamos de caminhar ao lado dos movimentos sociais, das organizações e dos territórios”
Como fazer a cobertura jornalística sobre o custo ambiental das tecnologias digitais
Paola Ricaurte
Esse colapso climático é mediado tecnologicamente, há um processo no qual a tecnologia serve para habilitar os processos tradicionais de extrativismo e desapropriação. Essa tecnologia hegemônica, que usamos todos os dias, não está ancorada somente ao efeito do colapso e crise multidimensional que estamos vivendo, mas também está ancorada a um modelo de mundo que querem reproduzir, esta visão de como estar no mundo.
Sabemos que essa visão dominante, que já sabemos que é autoritária, epistemicida, quer acabar com tudo o que pode permitir a vida, tem múltiplas dimensões. Estas tecnologias têm uma dimensão de possibilitar a comunicação, de produzir conhecimento, mas para que ocorra tudo isso, há uma dimensão material.
Então é preciso que conectemos os efeitos que as tecnologias geram sobre os territórios e corpos concretos que possibilitam que essas tecnologias existam no mundo.
Em relação aos números sobre o volume de recursos energéticos, por exemplo, para que aconteçam os processos computacionais, está sendo quase equivalente ao que temos de emissão de carbono da aviação.
O consumo de energia, de água e minerais que está associado com a tecnologia, marca muitas das relações geopolíticas. Há estudos sobre o quanto um centro de dados consome de água, e por isso acontecem manifestações contra essas iniciativas, mas ao somarmos a água, a energia, a terra que está sendo desapropriada, e tudo o que implica o consumo de altos recursos, conseguimos ter uma dimensão deste impacto.
O que podemos entender por justiça digital?
Joana Varon
Para pensar nas narrativas dominantes e o que temos que trocar para irmos rumo à justiça digital e à justiça socioambiental, precisamos olhar para três eixos.
A primeira é a narrativa da nuvem, que é apresentada como se fosse algo que está no céu, bonita, feita de algodão. É uma narrativa que desmaterializa todas as questões que Paola disse anteriormente. Não existe “nuvem”, a nuvem está nos territórios, estão nos servidores, nos centros de dados que necessitam de água, energia, mão e obra, a tecnologia tem uma territorialidade e um corpo.
Para desconstruir essa narrativa e esse imaginário, é importante materializarmos a tecnologia, trazendo dados de trabalho, de recursos naturais e por quem está por trás desses imaginários e grandes empresas, por onde andam e o que querem.
A segunda é a narrativa da inovação, onde qualquer inovação é boa e que temos que acelerar o desenvolvimento tecnológico rumo a uma inovação cada vez maior sem se importar com os custos socioambientais, de direitos humanos e da terra. Essa narrativa da inovação acelerada leva ao tecnosolucionismo, uma crença que as grandes empresas de tecnologia vendem, onde a tecnologia resolve todos os problemas, justificando a necessidade de pessoas comprar essas soluções, apesar de nossos problemas são muito mais complexos, não será através dessas tecnologias que solucionaremos tudo, mas isso vende.
A terceira é a narrativa do tecnosolucionismo conectada às mudanças climáticas, como se elas tivessem surgido do nada, mas que a tecnologia poderia dar uma solução, apesar de elas serem extrativistas dos nossos territórios, porque dependem de minérios, água e tudo.
Temos que problematizar as mudanças climáticas como um eixo maior e histórico, que está ligado à justiça socioambiental, das lutas de defesa dos territórios e que essas mudanças climáticas têm relação com os processos políticos que não responderam às demandas de justiça socioambiental.
Nos termos da antropóloga Povinelli, não é que temos uma catástrofe das mudanças climática chegando, mas sim que houve uma catástrofe ancestral, que desde a colonização há essa lógica da expropriação, do extrativismo e de uma ambição de que todo o planeta tem que ir rumo a esta narrativa de futuro de uma modernidade supertecnológica, onde essas máquinas promovem uma ideia de que o homem tem que dominar a natureza.
Nosso novo projeto TRAMAS
Loreto (Maka) Bravo
As perguntas que nós fizemos sobre a doutrina da conectividade e inovacionismo, e de como isso está sendo vivido nos territórios, somada aos vínculos que temos com os territórios e processos políticos, resultou em uma necessidade de fazer uma análise mais política, geopolítica, econômica, que nos permita entender o que está acontecendo.
TRAMAS nasce de uma necessidade da Coalición de visibilizar as lutas de resistência que certos territórios estão travando no México, no Brasil, no Chile e em outros lugares na Centro América, por onde a economia política das grandes empresas de tecnologia está dialogando com os governos, através do oferecimento de inteligência artificial para políticas públicas, oferecendo possibilidades de investimentos milionários para trazer as infraestruturas que consomem água, energia, expropriam populações e aquecem ainda mais os territórios, gerando um desgaste enorme.
Tramas é um emaranhado das resistências de diversas partes da América Latina, onde as comunidades e as mulheres defensoras, que são a maioria das lideranças que defendem a vida nestes territórios, estão em luta por sentirem o impacto destas tecnologias na saúde e em seu tecido social, porque tudo é acompanhado pela ruptura deste tecido para que possam quebrar as resistências a estes grandes projetos de “progresso e desenvolvimento”.
Há um discurso de geração de empregos, mas para quem serão estes empregos? Em um centro de dados trabalham quantas pessoas? Que tipo de qualificação precisam ter? Houve alguma consulta nas comunidades onde foram implementadas essas infraestruturas? Estas são algumas das perguntas que fizemos para desenvolver Tramas.
A plataforma tramas.digital traz o resultado das nossas pesquisas de campo com as comunidades atingidas para documentar e compartilhar o que se tem vivido no Cerrado do Matopiba no Brasil, em Penco no Chile, e em El Salto, Jalisco e Querétaro no México. Disponível em Português e Espanhol.
Acesse à transmissão ao vivo completa
A conversa vai muito além do que foi relatado neste blog post, indicamos que ouçam a transmissão completa e conheçam a plataforma TRAMAS para continuarmos tecendo e ouvindo novas narrativas a partir dos corpos-territórios de Abya Yala.
Sobre o Ciclo
O evento faz parte do Ciclo de Conversatorios desde el Periodismo Descolonial en Defensa de Pachamamay que começou em 27 de junho de 2025. Esses encontros são transmitidos ao vivo na quarta sexta-feira de cada mês pelos canais Abya Yala Soberana, Minka Comunicación e Prensa Sin Censura de Porto Rico.