Novo artigo “Compost Engineers and Sus Saberes Lentos: A Manifest for Regenerative Technologies” na Branch Magazine.
#feminismos #futuros especulativos #inteligência artificialA Branch Magazine, revista online escrita por e para pessoas que sonham com uma internet sustentável e justa para todes, lançou no último período a Issue 9 com o tema “Attunement – Designing in an Era of Constraints” (Sintonização – Projetando em uma era de restrições) que conta com o artigo “Compost Engineers and Sus Saberes Lentos: A Manifest for Regenerative Technologies” de Joana Varon e Lucía Egaña Rojas, trazendo uma versão reduzida do livro homônimo que lançamos em 2024 e que está disponível na íntegra no nosso site.
As autoras nos convidam a um exercício radical: reimaginar completamente a nossa relação com a tecnologia, fazendo dela uma ferramenta de regeneração, inspirada pela natureza, pelo feminismo e pelos saberes ancestrais.
Ao invés do futuro metálico do Vale do Silício, carregado de valores colonialistas, patriarcais e extrativistas, que povoam o imaginário sobre a “Inteligência Artificial”, elas propõem tecnologias que regeneram a vida.
O Exterior Constitutivo da IA: o que fica de fora?
Para responder essa pergunta, Varon e Egaña Rojas desenvolveram um diagrama que demonstra o que está dentro do conceito de IA vendido pela mídia e grandes corporações como a matemática, objetividade, eficiência, velocidade, vigilância e automação, e o que está fora como as emoções, espiritualidade, subjetividade, saberes ancestrais, intuição, diversidade, cooperação e regeneração.
“Podemos reverter as lógicas e os imaginários que permeiam as concepções de tecnologia há séculos até hoje?”

Influenciadas pelos debates das feministas latino-americanas Gloria Anzaldúa, Ochy Curiel, Silvia Rivera, que exploram as nuances e interseções de coisas e seres que não são puros nem limpos, e inspiradas pelo texto “ The Camille stories: children of compost” de Donna Haraway, que traz as “comunidades de compostagem” que produzem “a cura e a continuidade através da criação de laços familiares de maneiras inovadoras”, as autoras propõe que se composte todo o lixo que os imaginários patriarcais ocidentais estão produzindo no desenvolvimento da IA.
O trabalho dessas engenheiras é reposicionar outros tipos de inteligências no centro do desenvolvimento tecnológico, desafiando a visão ocidental que sistematicamente exclui as inteligências emocionais, espirituais e intuitivas, dando espaço para nutri-la com valores e visões feministas que possam regenerar o que já tivemos, com uma velocidade fora da lógica capitalista, conectada com o meio ambiente e outras formas de viver.
“As Compost Engineers e seu conhecimento lento buscam imaginar tecnologias que operem e perpetuem noções de consumo responsável, além da economia circular e do desperdício mínimo, ao mesmo tempo em que relembram conhecimentos e tecnologias antigas. Como primeiro passo, propomos um jardim selvagem rústico como espaço de ação para desenvolver os sistemas regenerativos dos engenheiros de compostagem com a seguinte estrutura, infraestrutura e modelos de treinamento: Estrutura de Design: combinamos os Princípios de Justiça do Design, os Princípios da Permacultura e os Princípios da Fundação Fungi para criar uma estrutura substancial para as Compost Engineers construírem e observarem seus sistemas regenerativos.”
Leia o artigo completo na Branch Magazine e venha se reconectar com as tecnologias da vida, as tecnologias del buen vivir.
Quer mergulhar mais fundo? O estudo em inglês está disponível aqui.
Sobre as autoras
Joana Varon é brasileira, com ascendência colombiana, fundadora-diretora e catalisadora do caos criativo na Coding Rights, uma organização feminista que contribui para os debates sobre o desenvolvimento, implementação e regulamentação de tecnologias a partir de uma perspectiva coletiva, transfeminista, decolonial e antirracista dos direitos humanos, que por meio da criatividade e do conhecimento hacker busca estimular imaginários e ações que desafiem as desigualdades de poder. Ex-aluna do Berkman Klein Center for Internet and Society da Universidade de Harvard. Ex-Technology and Human Rights Fellow no Carr Center for Human Rights Policy da Harvard Kennedy School e ex-aluna da Mozilla como ex-media fellow. Feminista e defensora dos direitos humanos, tem mais de 15 anos de experiência em influenciar debates em arenas internacionais de governança tecnológica, de fóruns diplomáticos a técnicos, como a Internet Engineering Task Force (IETF), onde fez parte do grupo de pesquisadores que deu início ao grupo de trabalho sobre Considerações de Direitos Humanos para Padrões e Protocolos. Ela também é cocriadora de vários projetos que operam na interação entre ativismo, artes e tecnologias, como transfeministech.org, cartografiasdainternet.org, museamami.org, Chupadados.com, #safersisters, Safer Nudes, protests.org, Net of Rights e freenetfilm.org.
Lucía Egaña Rojas estudou Arte, Estética e Documentário Criativo e possui um doutorado em Comunicação Audiovisual. Como artista, ela trabalha em projetos que problematizam a construção de imaginários sociais e as fontes de conhecimento hegemônico. Seus projetos são formalizados por meio de produção artística, escrita, pesquisa, pedagogia e práticas auto-institucionais. Seu trabalho artístico não pode ser circunscrito a um meio específico e pode ser consultado em http://luciaegana.net. No campo educacional, ela transita entre espaços acadêmicos e pedagogias informais. Ela foi professora e fez parte da direção acadêmica do Programa de Estudos Independentes (PEI) do Museu de Arte Contemporânea de Barcelona (MACBA), professora associada na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Barcelona, palestrante convidada no Mestrado de Gênero da Universidade do Chile e no mestrado MUECA (UMH). Dentro do ativismo transfeminista, foi organizadora do festival de pós-pornografia Muestra Marrana e, em 2011, realizou o documentário “Mi sexualidad es una creación artística”, além de co-dirigir atualmente o Instituto de Estudios del Porno. Sua escrita explora diferentes formatos, desde ficção a ensaio, passando por prosa poética, manifesto e texto acadêmico. Ela publicou “Enciclopedia del amor en los tiempos del porno” (Cuarto propio, 2014; Trío editorial, 2020), “Atrincheradas en la carne. Lecturas en torno a las prácticas postpornográficas” (Bellaterra, 2018), “Acá soy la que se fue” (tictac ediciones, 2019), “Una cartografía extraña” (Metales Pesados, 2021), entre outros. Seu trabalho artístico é muitas vezes expresso coletivamente, onde participa no Musea M.A.M.I, no Centro de Estudios de la Naturaleza Extractiva (CENEx) e na Pluriversidad Nómada, um projeto promovido junto com Quimera Rosa. Seus principais interesses envolvem feminismos, metodologias, tecnologia, relações de poder norte-sul, processos coloniais e migratórios, extrativismo e erro.